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Lidar com o isolamento social

Ficar em casa, seja em teletrabalho ou não, é difícil. Não poder estar com os nossos amigos ou familiares pode-nos causar sensações de ansiedade, tristeza e desligamento social.

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Como lidar com este isolamento? (veja aqui um manual para adultos)


Para além das rotinas, é importante manter as suas relações sociais por chamadas ou videochamadas. Aproveite as apps em que dá para fazer jogos em simultâneo com os seus amigos (clique para saber as melhores apps). Navegue pelos museus virtuais, teatros e bibliotecas (saiba mais). Se possível, seja voluntário (veja aqui uma sugestão). Procure fazer atividades que lhe dão prazer (pintar, desenhar, por as séries da netflix em dia). Mantenha-se atualizado, mas não veja constantemente as notícias.

 

Mais que tudo, é importante não se esquecer que não está sozinho! Estamos longe, mas continuamos aqui!

água com vista para homem

A incerteza pelo olhar de um psicólogo

 

Quando penso estes tempos que vivemos, vem-me à memória um qualquer filme de Hollywood onde aparece, num qualquer frame perdido algures no tempo, alguém que ostenta um “The end is near!” escrito a esferográfica em cartão, num qualquer cruzamento em Nova Iorque. Olha-se pela janela e parece pairar um ar de domingo permanente. Não conseguimos tocar o que mudou, mas pressentimos que nada está nem será igual. Refugiamo-nos de não sabemos bem o quê, não sabemos bem como, e nem até quando. Desconfiamos do porquê, mas apenas isso. Não sabemos o que o futuro, o mundo e a economia nos reservam. Pelo menos os canais de Veneza estão outra vez bonitos e habitados! Não sabemos quando voltaremos ao escritório, nem quando as crianças regressam à escola. Sabemos que quarentena não são férias. Falta saber o que raio é a quarentena.

Aprendemos a viver a duas velocidades: Trabalho ou férias; Pressa ou descanso; stress ou paz. Pedem-nos, agora, para viver a uma terceira velocidade, intermédia, com as exigências do trabalho no quotidiano e da família nas férias. Pedem-nos movimento, porque a engrenagem não pode parar, mas quietos, para não espalhar o bicho! Pior, pedem-nos que o façamos hoje, como se já o soubéssemos fazer desde o início dos tempos, sem, sequer, ousar olhar para o depois de amanhã, que, esse, ninguém sabe.

Controlemos, então, o que podemos e como nos for possível. Cabe-nos, principalmente, (re)criar rotinas, reaprendendo e adaptando as rotinas que conhecemos. É, neste sentido, importante retomar os rituais associados à escola e ao trabalho para que o consigamos integrar o mais facilmente possível. É essencial que a rotina se aproxime o mais possível à realidade passada, para que esta seja o mais controlável e previsível possível, tanto para filhos como para os pais.

Tomemos o melhor e larguemos o pior das rotinas passadas. Acordemos a hora certa, mais tardia porque não enfrentaremos a hora de ponta, vistamos o que se vestiria num dia normal (calçado incluído!), tomemos o pequeno-almoço normal, depressa mas sem ter que ser apressado, comendo o resto da sanduíche pelo caminho, tomemos, finalmente, a hora certa, deixemos os filhos na “escola” (um espaço físico definido e circunscrito física e temporalmente), leve-se um debaixo de cada braço por não quererem ir e tome, depois, o seu lugar no escritório.

Aproveite-se para se almoçar em família e sem pressa, recordando o saudoso passado em que tinha que, em meia hora, “engolir” o conteúdo de uma marmita mal aquecida num micro-ondas velho da empresa, ou um bitoque gordurento do restaurante do fim da rua, barulhento, mas barato e de serviço “despachado”. Retorne, depois, ao escritório. Volte inteiro ao trabalho. E que os filhos voltem inteiros à escola. Regressem, enfim, a casa à hora certa. Descalcem a farda de trabalho e da escola. Descansem, como descansariam não fosse a pandemia.

Mantenha-se o máximo possível a rotina anterior. Que se vá a comer o resto da maçã até à escola, agora instalada num cantinho da sala. Que os filhos levem vestida uma camisola do seu clube no dia a seguir a um derby, desta vez disputado na playstation. Que quarta-feira às 19h seja dia de ténis, agora ping-pong improvisado na mesa de jantar ou hip-hop em frente ao ecrã do computador, na aula que prossegue online.

Criar, recriar, adaptar e manter rotinas é, mais do que nunca, de brutal importância. A rotina é, neste momento, do pouco previsível e controlável que nos sobra. Sem saber o que vai acontecer mais logo no nosso dia, sobra o caos. Sem (de)limitação de tempos e espaços, tudo o que nos for difícil, é feito nunca e em lugar nenhum. Por outro lado, a rotina dá previsibilidade, que gera uma sensação de controlo, que, por sua vez, nos traz segurança. Sendo certo que a rotina nos permite encarar o presente, esta será de especial utilidade para o futuro a que regressarmos, quando e como quer que este venha a ser.

Mantenha-se separado o trabalho e o lazer da forma mais clara possível, em tempo e espaço. Para que seja claro e previsível para todos. Para que se compreenda COMO é que quarentena não são férias.

Martinho Palha

Psicólogo Clínico

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