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Perturbação Obsessivo-Compulsiva

em quarentena

Para quem tem POC, a nossa equipa deixa algumas recomendações específicas para os jovens (veja aqui), para os pais de crianças e jovens com POC (veja aqui), e para os adultos que têm POC (veja aqui).

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E quando dentro da nossa mente está uma perturbação como a POC?

Quando começou a surgir nas redes sociais a notícia de que era necessário lavar as mãos regularmente porque havia um vírus à solta, alguns dos jovens que acompanho reagiram de forma muito tranquila: “Isso é que eu já faço! Bem-vindos ao meu mundo!”. No entanto as notícias foram crescendo em frequência e cada vez mais em alerta. Alerta para evitar contacto social, alerta para lavar as mãos bem e muitas vezes, alerta para as gotículas de saliva, para os apertos de mão, para o tossir no cotovelo... E quase sem darmos conta estamos perante uma pandemia. É inevitável um aumento de ansiedade. Grande parte das nossas rotinas foram alteradas, os locais de trabalho mudaram, o ambiente de medo de contágio instalou-se, recolhemos para dentro de casa e para dentro de nós próprios.

As crianças, jovens e adultos com POC estão muito vulneráveis ao aumento substancial de sintomas obsessivo-compulsivos nesta fase que vivemos. É muito mais difícil dizer a si próprio que a vontade de lavar as mãos não faz sentido quando todas as redes sociais, a Organização Mundial de Saúde, o Governo, reforçam que devemos lavar as mãos frequentemente e de forma meticulosa. O medo de ser contaminado pode tornar-se um pensamento constante e, no limite, a única coisa em que as pessoas com POC conseguem pensar. São tempos difíceis para quem tem POC.

Onde se traça a fronteira entre ansiedade normativa em relação ao COVID-19 e o desenvolvimento de uma POC?

Os sinais de POC são claros e diferentes de uma resposta ansiosa normativa nesta fase. Estar preocupado com o contágio e lavar as mãos não significa que se tem uma POC. No entanto, devemos manter-nos alerta para alguns sinais que poderão apontar para o desenvolvimento de uma POC:

1) Pessoas com POC têm tendência para lavar as mãos até sentir que “está bem” ou até se sentir suficientemente confortável. As lavagens são ritualizadas, têm uma ordem e obedecem a uma sequência específica. A função deste comportamento é baixar a ansiedade causada pelos pensamentos obsessivos de contaminação. Em alguns casos, a lavagem das mãos pode ser uma forma de encontrar conforto, de aliviar o peso das obsessões, por exemplo de que um familiar poderá morrer ou que algo terrível lhes vai acontecer. Numa reação de ansiedade normativa a lavagem das mãos tem a função sobretudo de diminuir o risco de contágio, não segue uma ordem ritualizada e não se prolonga até a pessoa sentir que “já está”.


2) Os pensamentos obsessivos de uma pessoa com POC são persistentes, intrusivos, invadem todo o espaço mental e dificilmente diminuem sem a realização de compulsões (por exemplo, lavar as mãos). Uma resposta ansiosa normativa não está presente no indivíduo de forma permanente e poderá diminuir face a outros estímulos.

Soraia Nobre

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